Constelações Sistêmicas e Coaching Sistêmico
Um olhar terapêutico sobre o câncer de mama
08/07/2014 10:53
Quando realizo uma constelação sistêmica em pacientes com câncer, muitas vezes posso ver que inconscientemente eles querem morrer.
Estão mais próximos da pulsão de morte que da pulsão de vida apesar de conscientemente afirmarem que querem lutar contra o cancro, mas inconscientemente há um movimento maior que as leva para a morte.
Uma dinâmica sistêmica comum que vi com algumas mulheres, foi que elas estavam em guerra com o feminino e assim tornam-se maiores que seus parceiros mais poderosos que os próprios pais,principalmente maior que a mãe. Adotam de alguma maneira o masculino dentro delas, assumindo responsabilidades além do que suportam.
Em algumas outras pessoas há uma dinâmica oculta que diz “eu sigo você no seu destino”.
Isto acontece quando a cliente perdeu alguém querido como irmãos, filhos, pais ainda jovens e a pessoa se conecta mais com a morte do que com a vida, como se carregassem uma “culpa” inconsciente por terem sobrevivido.
O câncer origina-se de células que perderam suas funções de controle normais e acabam por apresentar um crescimento desregulado.
Assim também se constitui o processo emocional obscuro e inconsciente do ser oncológico, que de alguma maneira também perde o controle de seu psiquismo, de suas emoções por não aguentar talvez sufocar tantas angústias, traumas, conteúdos recalcados e mágoas.
Desta maneira o câncer é a metáfora do ser, a metáfora daquilo que lhe rasga, daquilo que dói e cada vez se torna maior dentro de si, mais doloroso. Daquilo que cresce e apodrece dentro dele, como a mágoa por exemplo.
Ao alimentar uma mágoa por muito tempo em sua alma, todo o seu mundo interno se desarmoniza, e o resultado deste desarmonizar são os distúrbios celulares.
Raiva, ressentimentos, mágoas antigas, segredos guardados, medo de perdas importantes, viver mais para os outros e esquecer-se de si mesmo, fazem concretizar um câncer no órgão relacionado ao fato.
Também o câncer tira de alguma maneira a onipotência da pessoa e a confronta com a questão do imponderável, da finitude e da morte.
A doença não desaparecerá enquanto o doente estiver retendo em seu coração mágoas e desarmonia por uma ou mais pessoas.
Para Grodeck a doença também é uma "manifestação de vida", pois é através dela que a pessoa enferma busca reparar alguns erros na tentativa de se manter vivos e sadios.
Além disso, a doença traz repouso, afeto e o cuidado do outro para com o enfermo, que de alguma forma peculiar se constitui numa tentativa de retorno ao mundo da infância.
O câncer “é um dos meios de ascender ao conhecimento de si mesmo, a doença passa a ser uma linguagem”,para que a pessoa aceite ser cuidada. (AVILA, 1998, pág. 39).
Ainda neste sentido Grodeck afirma que: "a doença constitui o ultimo refúgio da liberdade do individuo quando a vida se lhe tornou insuportável." (pág.120).
Grodeck afirma sobre o papel do médico no cuidar. Diz-nos que este é responsável por fazer o sujeito compreender que apenas ele próprio tem as ferramentas necessárias para curar-se, portanto, seguindo este preceito o paciente com o câncer precisa entender que ele mesmo é capaz de influenciar a saúde de seu corpo e se seu objetivo for à cura poderá começar de imediato a transformar a si mesmo mudando algumas perspectivas.
Utilizando como referencial as pesquisas de Rossi e Santos (2002), ao final da publicação os autores alegam que dentre as perspectivas positivas vivenciadas pelas pacientes oncológicas está o fato de "terem passado a valorizar mais a natureza (...), o momento presente e a vida de um modo geral", proporcionando-lhes "um redimensionamento da vida e uma revisão de valores". (pág. 40)
“A doença não é um fim, mas um meio." (GRODECK apud AVILA, 1998, pág. 36) Um meio de reencontrar-se no mundo, um meio de encontrar a si mesmo!
A chance de cura passa primeiramente pela libertação da mágoa e do rancor. Avaliar de fato quem te magoou e se desfazer deste sentimento é fundamental para a cura.
Aceitar os erros dos outros alivia a alma e traz serenidade.
Se a doença persiste é porque de alguma maneira a pessoa continua guardando lembranças negativas e tentando ainda ser onipotente: Cuidando de tudo e de todos menos de si mesma.
São nestas questões que o acompanhamento terapêutico se faz necessário tanto quanto o trabalho do médico.
Enquanto o médico se volta para os fatores físicos que causa a doença,o terapeuta volta o olhar para os fatores emocionais que "produziram" a doença e a levaram até o corpo,numa tentativa de coibir gatilhos emocionais inconscientes que irão manisfestar-se fisicamente no corpo posteriormente talvez em um novo órgão.
Claudiane Tavares
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